domingo, 25 de abril de 2010

O Espadachim Negro

História curta roteirizada pelo Ricardo Andrade, e desenhada por este que vos escreve (talvez o correto seja "que te escreve", pois é pouco provável que isto aqui tenha mais de um leitor).
Originalmente deveria ser uma tira, mas - por inspiração das musas ou por simples frescura minha - ficou neste formato estranho de duas páginas.
Chegou a ser publicada numa edição do FARRAZINE com uma outra formatação.
Não sei se agradou alguém, já que não recebemos inúmeras cartas elogiando ou insultando o Espadachim e os envolvidos na sua criação. Mas como eu não sou Zeus, que pode colocar no céu na forma de constelação todos os fracassados de Hélade, eu deposito os meus fracassos, sejam no campo artístico, intelectual ou pessoal, aqui.


quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Povo Contra Garry




 Na noite de 29 de dezembro de 2005, meu pai resolveu fazer uma dupla de lasanhas para o jantar. Claro que isso inevitavelmente atraiu algumas pessoas que acabaram se reunindo aqui em casa. Enquanto esperávamos a refeição ficar pronta, resolvi tirar algum proveito da velha caixa de tênis do meu primo Diego, que estava - por alguma razão desconhecida e provavelmente insana - aqui. Esta caixa estava repleta de Playmobils. Com direito a acessórios, veículos e apetrechos variados. Então eu empunhei a novíssima filmadora da minha irmã e exigi como tributação pelas fatias de lasanha que meus parentes me auxiliassem neste projeto batizado de O Povo Contra Garry.
Esse é um curta muito escroto, feito em umas seis horas (contando o intervalo para comer a janta preparada pelo meu pai). Além de boa vontade, este filme não teve mais nada: não teve talento, não teve produção prévia, não teve nem roteiro. Os diálogos eu improvisei na hora sem ter muita certeza aonde iriam acabar. Não teve nem edição, fui filmando direto e, quando algo dava errado, rebobinava e refazia por cima. Por "errado" entendam diálogos absurdamente ininteligíveis. Resumindo, usei a técnica de Ed Wood, e o resultado foi este aí.


Dados "técnicos":
Título: O Povo Contra Garry
Sinopse: Garry da Silveira é preso e acusado pela Promotoria do Estado do Texas por ter provocado a morte de um menino em um acidente de carro, mas há muitos mistérios ocultos neste evento.
Filme de Rafael Machado Costa, com Emerson Moraes Nunes, Rafael Machado Costa, Diego Machado Hidalgo, Douglas Severo e Karine Machado Costa.
Gênero: inspirado na Literatura Pulp Fiction, este filme é uma mistura de "suspense de Super Cine" com "filme de tribunal".
Ano de produção: 2005.



Disponível aqui

sábado, 10 de abril de 2010

Mr. Hyde, o guarda-chuva e os anos ’80




As pessoas vivem me perguntando por que de eu nunca usar guarda-chuva, mesmo quando chove. Agora pensando, colocar a expressão "mesmo quando chove" me pareceu bem idiota. Afinal, quem usaria um guarda-chuva quando não está chovendo? O que me leva a pensar na questão da sombrinha: por que as mulheres chamam seu guarda-chuva de "sombrinha"? A sombrinha deveria ser um item usado nos dias de sol intenso, mas algumas, por algum motivo, não admitem que usam guarda-chuvas e insistem em chamá-las de sombrinhas. Talvez seja algum instinto primitivo remanescente do século XIX que as faça quererem se comparar às damas européias.
Mas eu falava de não usar guarda-chuva. Nunca. E o que parece impressionar quando relato esse fato e o pânico religiosos que as pessoas costumam ter da chuva. É só começar a chuviscar, e todos sob o céu iniciam uma louca escapada, se escondem, saltam e dão piruetas. Tudo pra escapar do terrível elemento conhecido como "água". Parece até que a água não vai secar depois não deixando nenhuma seqüela ou cicatriz. E esse tipo de comportamento influencia as crianças o transformando em um ritual. Por ritual, digo uma ação originalmente lógica e racional que buscava atingir um objetivo em uma determinada sociedade, mas posteriormente a sociedade mudou, o comportamento deixou de ser útil, mas continuou sendo repetido por puro costume. É assim com a chuva, simplesmente se foge dela porque... porque sempre se fugiu. A mesma regra do Direito da Idade Média: tudo que se faz há tanto tempo a ponto de não se lembrar o porquê ou quem iniciou, se presume uma regra da natureza e lei divina.
Bem, a questão não é exatamente essa, mas sim o Leviathan. O mal inerente a todo homem representado pelo totem do monstro marinho. Como disse Thomas Hobbes, todo o homem é naturalmente mal e egoísta, e as leis foram criadas quando estes homens acordaram em abrir mão de seu direito de fazer tudo o que queriam, inclusive chutar as bundas e furar os olhos de quem encontrassem ocasionalmente pelo seu caminho, sob a condição de que estes outros homens também abrissem mão de lhes fazerem a mesma sacanagem. Civilidade seria o bom senso na hora de aplicar piadinhas infames.
Está certo, vou voltar à problemática do guarda-chuva. Na próxima vez que vocês forem pegos na rua por uma pancada de chuva, tentem se esforçar um pouco e deter o pânico que lhes apertará o coração. Não vai ser fácil, mas pensem "É só água.", "Depois vai secar.", "Eu espero que seque..." ou ainda "Que deus me proteja e ajude a secar minhas roupas!". Respirem fundo e mantenham a calma, então observem o comportamento das pessoas ao seu redor. Elas abrirão seus guarda-chuvas, os puxarão para bem perto do corpo, e começará uma guerra pela sobrevivência. Correrão com pressa, mesmo que antes da chuva não a tivessem, e se movimentarão de maneira agressiva. Andarão em linha reta em direção ao seu objetivo, e quem estiver no caminho terá de sair, ou enfrentar o tétano e outras conseqüências de pontas metálicas nos olhos.
E não há piedade para com as pessoas que não tiveram a sorte/má-fé de saírem de casa armadas com seus guarda-chuvas. Eu costumo observar isso, e geralmente as pessoas que estão de guarda-chuva aberto vão para baixo dos parapeitos e marquises de prédios buscando uma "dupla proteção", e quem não está com guarda-chuva, que tentou se esconder embaixo desse parapeito é empurrado para fora, pois os "grada-chuvados" andam em linha reta como rinocerontes, mas com o adicional de terem "chifres" em todas as direções. Um fenômeno interessante é quando dois "rinocerontes" vêm em direções opostas brigando pelo território do parapeito.



Qualquer um deles poderia passar por fora dessa área e ainda assim não se molharia, mas nenhum abre mão do espaço. Os "desarmados" são jogados para fora do espaço como vítimas de atropelamento, pelo menos os que não são rápidos os suficiente para saltarem como um estouro de gazelas nas savanas. E quando ambas as feras colidem, é como uma cena de corrida de bigas de "Ben-Hur" em que as carruagens têm lanças presas nas rodas e uma tenta estraçalhar os raios da outra.



Parece a mim que, quando um humano empunha seu guarda-chuva ele rompe o pacto social. É como o soro do bom Doutor Jekyll que faz com que o usuário perca todas suas inibições a que foi acostumado a seguir para atender a idéia de civilidade, e a única coisa que importa seja a própria vontade. Um guarda-chuva não é só um objeto utilitário, tem uma função quase que de nos conectar com uma força animal transcendental liberando nossos instintos mais primitivos e trazendo de volta como mais importante valor a ser atingido na vida a própria sobrevivência.
O que me deixa fascinado é o paradoxo em como nossa capacidade de idealizar e construir objetos, que supostamente nos diferencia dos demais animais, possa criar uma ferramenta cujo resultado é justamente despertar nossos valores animais desconstruindo esta mesma civilidade que nos permitiu gerá-lo.



E como eu faço para me proteger da chuva? Bem, eu uso minha jaqueta jeans fabricada nos anos ’80. Bem, ela está bem desbotada, mas ainda resiste bem (exceto pelo fundo de um dos bolsos que é feito de um tecido mais fino e já se semidesintegrou). Praticamente uma relíquia que está na minha família e é passada de geração em geração há... há duas gerações, mas eu pretendo passar ela para o meu filho se um dia eu tiver um, e assim criar uma tradição. Só espero que ele me perdoe por não ser descendente do Isildur e ter uma espada élfica pra deixar como herança.
Um amigo meu me disse que se um dia eu quiser ser um astro do Rock, bem, pelo menos eu tenho a jaqueta...

Não é à toa que algumas corporações malignas tenham escolhido os emblemas que escolheram.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O Homem-Barata

Isto aqui (sejá lá o que for) nasceu da minha tentativa de participar da série de tiras "Farratown" que surgiu de conversas e piadas em um blog e agora são publicadas no FARRAZINE.
Eu até cheguei a rascunhar um "volume 2" para o Homem-Barata, mas nunca o concretizei. O que aconteceu foi que Tubarão Atômico acabou fazendo mais sucesso(?) que o personagem principal e chegou a aparecer em algumas tiras de meus colegas.
Percebam que a técnica utilizada foi grafite e o Paint (minha caneta nanquim estava vazando, e por isso inutilizada).
Pois fiquem com elas... ou fujam antes de terem de encará-las.








sábado, 3 de abril de 2010

Jornalismo Inteligente

Vou abrir este blog falando sobre algo em que tenho pensado há algum tempo: qual o critério para se selecionar os repórteres de telejornais? Lembro ter assistido a uma reportagem sobre as inundações que ocorreram no interior do Rio Grande do Sul há alguns meses. Diante de uma família que havia perdido a casa, mobília, plantação e tudo mais o que tinham exceto as vidas, o repórter fez e curiosa pergunta: "vocês estão tristes?"
Que diabos ele estava querendo ouvir como resposta? "Não, aqui na nossa cultura nós vemos a destruição total e completa da nossa cidade com bons olhos. Somos todos seguidores de Rã's Al Ghul."? E parece que virou uma questão padrão para vítimas de desastres ou violência.
Ainda tem as ocasiões em que os próprios repórteres fazem esse tipo de pergunta já respondendo como "Vocês estão tristes, certo? Desesperados? Estão se sentindo mal, mas vão recomeçar do zero?", e as pessoas que além de terem de sobreviver às suas desgraças, tem de aturar este tipo de pergunta, e ainda em choque só conseguem repetir o que o repórter já disse "Estamos tristes... Desesperados... Estamos nos sentindo mal e teremos de recomeçar do zero...". Realmente é uma espécie bem completa e útil de jornalismo. Nessas situações eu não consigo não pensar em que tipo de formação recebeu uma pessoa dessas. Devem ser todos alunos do Instituto Epaminondas.
É um nível de falta de senso só comparável ao dos repórteres de Metropolis. Não, não venham defender Lois Lane. Alguém que não percebe que duas pessoas com quem se convive, de rostos idênticos, com a mesma voz, estatura e porte físico são na verdade a mesma pessoa só porque às vezes tira os óculos e lambe os cabelos faz com que tenha um lugar garantido neste texto. E me nego a comentar a "teoria das lentes dos óculos kryptonianas mágicas".
É uma tarefa bem árdua encontrar um telejornal não idiota hoje. Programas como o "Jornal Nacional" se dedicam a coisas como "foca empina bola na Holanda", resultado de reality shows e coisas do gênero. Um dia ainda a Globo perderá totalmente a vergonha e só terá programas como "Vídeo Show" e o do Faustão. Nos horários entre as telenovelas, claro. Nunca ameaçando as telenovelas. Ou alguém não lembra que um dia o "Fantástico" tencionou ser um programa de jornalismo. Atualmente ele já assumiu ser... Bem... Ser essa coisa que ele é.
Os jornais regionais e que passam em horário próximo ao meio-dia são bem "interessantes". Eles se iniciam com as "notícias" esportivas, que na verdade são cenas das partidas de futebol acompanhadas de algum comentário totalmente desnecessário. Praticamente metade do programa se resume a isso. Então entra o tão aguardado momento: a previsão do tempo. Aí a maioria do público fica satisfeita de poder programar sua semana toda ao redor dessa previsão, pelo menos aqueles que ainda acreditam nela. Então o horário do programa já está esgotado, e infelizmente não sobra tempo para se comentar o mais recente esquema de corrupção descoberto dentro do governo estadual. Mas afinal, quem se interessaria por isso?
Logo após o telejornal do meio-dia começa o incrível "programa de esportes", que nada mais é do que uma repetição das cenas futebolísticas já exibidas no início do programa anterior, e o restante do tempo é dedicado a fofocas da vida dos jogadores de futebol e a entrevistas de jogadores que acabam de serem derrotados em uma partida em que são obrigados a responderem a "você está triste?", "gostaria de ter vencido?" ou "vai tentar ganhar da próxima vez?". Esses programas de "esportes" são de "esportes" só no nome, porque se resumem ao futebol. ’Tá, às vezes, falam de basquete, vôlei ou ginástica olímpica, mas no máximo uma única reportagem e só quando estes atletas conseguem chegar a alguma final por mérito próprio e praticamente sem apoio. Daí, na época das Olimpíadas, esses repórteres, que acreditam falar em nome de toda a população, tem a ousadia de ficarem decepcionados quando os esportistas brasileiros não vencem. Esportistas na maioria sem patrocínio, esquecidos e a que eles não dedicaram nem cinco minutos de seus programas nos últimos quatro anos e que agora exigem deles que vençam superatletas estrangeiros treinados desde crianças com equipamentos avançados e apoio de seus Estados.
Depois vem o "Jornal Hoje" com suas "reportagens-propagandas". Já perceberam que sempre tem uma reportagem mais longa? Que ela geralmente envolve um novo tipo de produto ou serviço? E que esse novo produto é mostrado como uma coisa boa e revolucionária ao conforto da sua família? Com direito ao empresário que investe no ramo dar opiniões e demonstrar as qualidades de seu produto.
Ainda tem os programas de "notícias de artistas" da Rede TV que duram uma tarde inteira, e não chegam a ter três pautas, e estas pautas são acontecimentos dos canais concorrentes. A Rede TV é o único canal que conheço que tem todo o seu funcionamento baseado em outro canal. Nem podem ser chamados de concorrentes, é mais como o simbionte alienígena da Marvel e o Mac Gargan formando aquela versão mentalmente lesada de Venom que devora os cérebros dos telespectadores.



E os "artistas" a que se referem são no máximo pessoas que passaram por algum reality show. Eu sempre pensei que artista era alguém que se dedicava à arte. Sei lá... Goya, Da Vince, Mozart, Chaplin, Akira Kurosawa, Clint Estewood... Ninguém quer mais ser reconhecido e famoso por ser bom em algo, e sim simplesmente quer ser reconhecido pelo próprio fato de ser reconhecido. Satisfazem-se com fama sem mérito.
Tem ainda o jornalismo de desserviço público. Sabem quando um traficante de drogas que atuava em um bairro residencial é preso? Então vão lá os repórteres e falam "foi capturado graças a uma denúncia anônima. O delator não quis se identificar, mas foi um integrante da comunidade local que já havia se desentendido com o suspeito quando seu filho tentou participar das atividades criminosas". Claro, para mim e para maioria das pessoas que está assistindo o delator continuará anônimo, mas será que não é facilmente reconhecido pelos moradores locais? Quantos responsáveis por denúncias anônimas não morreram porque os repórteres não pensaram no que iam dizer antes de abrir a boca?
Têm os casos em que esses mesmos jornais vorazes por conteúdo exclusivo entram em uma cena de crime e apontam "Olha lá o cadáver da vítima! Aquele corpo estendido no chão... Aquele!". Por mais que essas imagens sejam acompanhadas de um discurso de combate ao crime e protesto, não seria isso um desrespeito ao morto e à sua família?
Ainda há o "Jornal da Band", que aparentemente é mais imparcial. Isso até a questão fundiária/ambiental vir à discussão. Pois daí as falas se tornam direcionadas, mostrando apenas os argumentos de caráter positivista que defendem a economia como o principal braço da sociedade e demonstrando como todos os demais princípios constitucionais devem ser sacrificados quando o objetivo é salvar o Mercado.
Argh! Vou parar por aqui, não porque os exemplos de telejornais imbecis tenham acabado, mas eu teria de passar ainda muito tempo escrevendo para dar conta de todos.