domingo, 14 de novembro de 2010

O Dilema de Superman


Já se perguntaram o porquê do Superman ser o Superman. Pensem só: ele poderia fazer qualquer coisa, mudar o mundo, reconstruí-lo conforme seus desejos e sonhos. Poderia criar as regras, mas, ainda assim, prefere seguir as normas impostas por um bando de criaturinhas frágeis, estúpidas e egoístas chamadas “humanos”. E não me venham com “é que ele recebeu uma boa educação de seus pais.” Filhos com comportamentos antagônicos aos dos pais existem há muito tempo. A resposta para esta questão me ocorreu há alguns anos quando li pela primeira vez Dark Knight Returns de Frank Miller.
Superman perdeu seu mundo, Krypton explodiu e não existe mais. Agora ele vive na Terra e, tendo capacidades que poderiam equipará-lo a deuses, precisa se conter o tempo todo para não destruir o mundo acidentalmente. E nós, os bons humanos frágeis que merecem ser protegidos, não somos tão merecedores assim. Nós evitamos tudo o que é diferente, exilamos e, se somos obrigados a conviver com o estranho, se não podemos escondê-lo e evitá-lo, nós o tememos. E Superman sabe disso, sabe como nós somos, como ele deveria ter sido se tivesse seguido à risca o modo de pensar da Terra na qual foi criado. Mas a diferença, o que faz com que ele não seja só mais um na multidão preocupado com suas próprias idéias e objetivos, o que faz com que ele não seja o maior conquistador do planeta e que o impede de obrigar o mundo a ser correto como ele: seu medo da rejeição. Ele não só é estranho — o que já constitui por si só motivo para ser temido e odiado —, como de fato poderia se impor sobre todo o planeta. O planeta tem todos os motivos — conforme a cultura da Terra — para odiá-lo. Então ele segue cada mínima regra dos miseráveis humanos — até mesmo aquelas que nem os próprios humanos respeitam —, dedica sua vida divina à tarefa de servo de criaturas inferiores esperando que, assim, ele seja não aceito, mas ao menos tolerado. Mostrando que sempre será submisso, sempre servindo ao mundo, Superman demonstra sua forma de implorar — não pelo afeto, carinho ou respeito — pela indiferença do seu mundo adotivo. Sendo servil e bajulador, ele se sente seguro ao lhe ser permitido sentar no canto da sala e observar silencioso a vida das demais pessoas. E essa tolerância no ambiente, essa meia felicidade de que não é digno e lhe dão apenas de favor, lhe parece muito mais do que merece. Então Superman fica lá em seu canto com sua meia vida ansioso para que um dos miúdos seres dominantes do planeta o chame para que venha servi-los. Ele nem deve saber o que é felicidade ou uma vida por inteira, afinal, sempre viveu assim. E além do mais, caso fosse expulso, caso os seus senhores microscópicos o repudiassem e exigissem que partisse, aonde Superman iria?