quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Eu escritor?

Dia 15 de janeiro de 2011, das 14 às 18 horas acontecerá na Biblioteca Temática de Literatura Fantástica Álvaro Corrêa, em São Paulo — Rua Sena Madureira, 298, Vila Mariana, São Paulo, SP —, o lançamento da coletânea de contos chamada Jogos Criminais da Andross Editora organizada por Sérgio Pereira Couto.



Jogos Criminais (Andross Editora)
Contos policiais
Organização: Sérgio Pereira Couto
Sinopse: Para o bem ou para o mal, a mente humana é capaz de realizar os mais notáveis feitos; o livre arbítrio é sua arma mais perigosa. Assim, o que faz com que uma pessoa se volte para o crime? Quais mecanismos são acionados quando surge o desejo – ou a necessidade – de fazer algo imoral, amoral, ilegal? Quando a alma é o campo de batalha entre a ânsia, o medo e a culpa, o resultado é imprevisível. Em Jogos Criminais, as verdades da natureza humana serão expostas sob a ótica de uma máfia de escritores dispostos a criar o crime perfeito.

O que quero destacar aqui é a seguinte questão: meu conto O Coletor de Almas fará parte dessa antologia.
Já faz alguns meses que o conto foi selecionado e desenrolou-se todo o processo de edição, mas ainda não tinha comentado aqui porque o fato não fora completamente assimilado por mim.
Faz algum tempo que eu tentei começar a escrever. Mais precisamente, foi no meio de 2003 que eu percebi que estava com a cabeça cheia de idéias para histórias com personagens que havia criado com amigos em 2001, e decidi colocar para fora e liberar um pouco de espaço para pensar em outra coisa. Só que esse espaço livre não durou muito tempo, logo estava cheio de novo, e a partir de então eu criei a necessidade de descarregar essas idéias escrevendo. Às vezes, fico anos com uma cena ou seqüência de diálogos na cabeça memorizada intacta, esperando até alguma história em que estou trabalhando chegar ao ponto exato em que esta cena deve ser inserida. E, depois de passada para o papel, ela se vai. Não completamente, eu ainda lembro o contexto, mas não da literalidade das falas como durante todo o tempo em que levei entre sua concepção e sua transcrição. Têm casos em que me surpreendo ao reler tempos depois justamente por saber que eu tinha todo aquele texto de cor, e agora, depois de escrito, eu só tenho a lembrança embaçada de que ele existe.
Então, depois de todo esse tempo escrevendo, obrigando amigos a lerem, enviando a editoras, eu recebi um e-mail dizendo que algo que eu fiz foi selecionado para ser publicado. E não que eu seja um grande escritor, talvez nem mereça isso. Tenho plena noção de que sou um total fracasso fazendo crônicas, sinto-me mal ao fazer dissertações, porque sei que elas têm de ser muitas vezes técnicas, e uma vozinha maligna dentro de mim exige como tributação para que me deixe em paz um efeito literário, algo cômico, ambíguo ou sarcástico, e sua voz é tão doce que fica quase impossível resistir. É esse provavelmente é um dos motivos deste blog não ser grande coisa. Mas quando eu tenho a oportunidade de narrar uma história, por mais difícil que seja o processo desde quando eu tenho uma epifania — no ônibus, assistindo algum documentário sobre invertebrados ou escovando os dentes — em que alguns pontos de história que parecem exigir existirem como texto, até o momento em que, de tanto repeti-los mentalmente — esta é a parte que envolve elaboração e algum trabalho, se é que se pode chamar algo que é divertido ou sofrível, mas recompensador ao final, de trabalho —, surgem eventos ou seqüências de frases que unem estes pontos e finalmente aquela mesma voz me cochicha “é assim que deve ser, pare imediatamente o que estiver fazendo, sente-se e escreva!”, então eu sinto que era exatamente isso o que eu deveria fazer. Uma das coisas que me deixam realmente satisfeito é quando consigo construir algo, juntar o que até então eram pedaços, e deixá-los unidos como uma coisa nova, e o máximo desta sensação vem quando eu termino uma narrativa, e ela se parece com o que era como idéia antes das peças serem unidas.

Sobre o conto em questão, eu não vou contar e estragar a oportunidade de quem for lê-lo (ou preveni-los desse mal), mas lembro como ele nasceu. Filosófica e artisticamente, eu tenho uma preferência pelo romantismo clássico, valores de aristocracias militares idealizadas, Bushido, Bela Morte dos espartanos, a busca pelo Valhalla. O que me leva a alguns anacronismos, como personagens urbanos em ambientes de tecnologia bem desenvolvida enfrentando robôs empunhando apenas armas brancas. É uma questão pessoal, mas me parece “feio” resolver um conflito com tiros e granadas, então acabo evitando este tipo de situação. Mas um dia eu estava voltando para casa de metrô. Cena: eu parado em pé diante da porta que só abre para desembarque na estação final, fiquei o caminho inteiro olhando pela janela sem observar nada especificamente, só pensando no que estava escrevendo na época. Então, quando o trem finalmente parou, e a porta abriu, desembarquei dando o primeiro passo no piso de pedra da estação e pensei: “preciso de um pistoleiro”. O que me ocorreu era que, em um mundo urbano de armas brancas, um único atirador que executasse sua perícia como um artista/artesão não seria resultaria na banalização do tiroteio. Ele seria único e destacável, como mandar um cara vestido com uma bandeira, que não portasse armas de fogo, apenas empunhando um escudo e se negasse a matar para lutar na maior e mais sangrenta guerra que a humanidade já travou. Seria tão ridículo e deslocado que acabaria sendo especial. Eu definitivamente precisava de um pistoleiro.
O próximo passo era decidir quanto à forma. Um pistoleiro deveria ser um matador, mas não queria um simples criminoso-vilão. Então optei pelo formalismo dos quadrinhos norte-americanos da década de ’80. Deveria ser ambíguo, com uma amoralidade da filosofia japonesa e do niilismo de Nietzsche. Não haveria bem ou mal, só um grande cinza. A narração deveria ser em primeira pessoa — algo que até então eu nunca tinha tentado — conforme o cânone dos anos ’80, o que resulta na questão do narrador inconfiável. Não é contada a história como aconteceu, e sim o que o personagem-narrador acha que aconteceu. Esse subjetivismo fica completo quando a realidade física é incerta, e o ambiente da história envolve as alucinações e delírios do responsável por contá-la. Outra questão teórica em que pensei foi na teoria de Edgar Alan Poe sobre ser melhor dizer de menos do que de mais. Deixar uma ambigüidade na qual o leitor pudesse decidir se a narrativa fora um evento comum descrito por uma mente atormentada, ou um evento fantástico que atormentou a mente de quem o descreveu.
E, finalmente, quando tinha tudo isso em mente, antes de dormir no sábado à noite — que foi a véspera do dia em que comecei a escrever este conto — passou na televisão o filme O Profissional, a que eu havia assistido uma única vez anos antes. Então a idéia do triângulo “assassino-guriazinha-planta” — respectivamente Jean Reno, Natalie Portman e uma planta cujo nome eu desconheço, apesar de ter procurado nos créditos — organizou essa massa disforme de coisas que estavam na minha cabeça que até aquele ponto eu sabia que deveriam se unir e formar algo, mas ainda não sabia o quê.
Então, quando acordei na manhã de domingo, aquela voz — que talvez seja uma das musas, mas eu acredito que mais provavelmente pertença a Loki — cobrou seu tributo, e o conto O Coletor de Almas resultou no que ele é.

Ilustração feita para o conto pelo grande Guiff

Certo, certo… Eu sei. É só um conto em uma coletânea. Mas é o mais longe que eu já fui até agora. Ainda não consegui publicar um dos meus romances, só que agora, por mais improvável que seja, eu posso quase ter alguma esperança — não, por mais bem intencionado que esteja, você não precisa me acordar deste sonho postando um comentário em que a verdade é jogada na minha cara. E, se você fizer isso, vai acabar se sentindo culpado depois, porque, pela quantidade de vezes que eu tenho essa sensação, fica bem claro que um daqueles anéis azuis que o Ganthet tem distribuído ultimamente nem piscaria no meu dedo. Minha meta praticamente inviável e que me deixaria satisfeito é conseguir publicar meu primeiro romance intitulado O Exército da Velha e A Pluma do Imortal, (sim, editor temerário e sedento por desafios que acidentalmente acabou lendo este texto, isso é com você) que foi no qual eu criei o mundo onde a maioria das minhas histórias se passa — fato que só é percebido por algumas poucas pessoas que são tão legais comigo ao ponto de ler todas aquelas 400 páginas, comentaram, criticaram e sugeriram, pelo qual serei sempre grato —, e que foi o início de tudo lá em 2003 quando comecei a escrever, e mesmo em 2001 quando criei os personagens, rascunhei desenhos, preparei anotações e fiz muitas piadas com meus amigos.

O que me resta a dizer sobre este assunto ainda é agradecer às pessoas que me deram apoio nesta empreitada insólita e imprópria, como minha irmã, que por muito tempo foi o “paciente zero” de todos os males causados pelos meus textos — mas sobreviveu graças a uma incomum resistência que reforça a minha tese de ela ter sido adotada pelos meus pais após a encontrarem entre destroços de um pequeno módulo de fuga interplanetário ao centro de uma grande cratera ao final de uma trilha de árvores em chamas —; ao João Pedro, que também foi minha cobaia de leitura; aos meus amigos Bruno e Régis, que mesmo sem querer, foram culpados por estarem presentes quando criamos os personagens Capitão Boom e Super Splash que resultaram em tudo isso; meu primo Diego que, mesmo tendo preguiça de ler muitos dos textos até o fim, faz coisas inesperadas que me resultam em inspirações para personagens — como passar o dia inteiro de pijama, para, na hora de dormir à noite, concluir que o pijama está sujo e acabar indo dormir com a roupa que deveria ter usado durante o dia; andar de skate usando vassouras como “remos”; ou até mesmo saltar da porta da cozinha girando coelhos de pelúcia pelas orelhas enquanto grita “São os nunchakkus da Mônica!” —; ao pessoal do FARRAZINE, com quem divido o que escrevo, em especial ao Rodrigo que me alertou sobre a seleção de contos para esta antologia; à Jo, que também foi obrigada a ler muita coisa e nunca tento use vingar; ao JL, que — apesar de ter se provado como um péssimo empreendedor no ramo empresarial ao sugerir que existiria um público consumidor dos meus “anjos de natal” — não só vai se dar ao trabalho de ler todo este texto, como o de comentar; à Renata, que agüentou muita chatice da minha parte, teve de ouvir muitas das minhas infames “Teorias” e que me incentivou quando eu falei em oferecer para a DC o roteiro de A Tardinha Mais Lusco-Fusco, uma saga em que G’Nort e Krypto têm de salvar o Multiverso ameaçado pela Tropa dos Lanternas Cinzas, cujo poder se baseia na luz meia boca do espectro emocional da indiferença, depressão e falta de autoconfiança; e, para finalizar o mais meloso de todos os posts deste blog, agradecer ao Peter David — apesar do fato de que ele nunca lerá este texto nem ficará sabendo de sua existência — por ter escrito as histórias que eu li quando criança e que me fizeram querer também escrever.

E, àqueles que vierem a ler alguma das minhas histórias: bem-vindos aos Cinco Mundos, à Nação e ao furgão amarelo que só anda de marcha ré!

sábado, 1 de janeiro de 2011

Anjos Natalinos #2

Bem, quem leu a postagem anterior sobre os Anjos Natalinos conhece a origem desta tradição.
No mês de dezembro de 2010, mais uma vez desperdicei meu tempo em algo construtivo, mas, simultaneamente, inútil.
 Em 2007 havia conceibido e feito um rascunho à lápis de uma versão com o dobro do tamanho padrão representando Galactus, O Devorador de Mundos. Em 2009, quando preparei as edições daquele ano, arte-finalizei este exemplar único junto com uma versão do Comediante. Finalmente este ano eu concluí ambos e preparei mais um.

Comediante, Larfleeze e Galactus

Ainda iniciei mais alguns que não concluí, mas registrei o processo de criação.


Versão à lápis

Sobreposta por camada de nanquim

Após o grafite removido
Santo Andarilho, Atrocitus, Sinestro, Safira Estrela, Índigo-I, Guardião de Oa e Caçador Cósmico
(o oitavo elemento virá a ser o Superboy Primordial caso um dia eu venha a concluí-lo)

Bom, este foi mais um capítulo sobre as minhas excentricidades que, caso venham a estimular alguma forma de interesse, provavelmente ele parta de um pesquisador vinculado a um tipo de estudo psiquiátrico ou alguém muito nerd.